Invenção de Orfeu UM MONSTRO FLUI NESSE POEMA] (Jorge de Lima)

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Catástrofe ambiental provocada pela Braskem [ [UM MONSTRO FLUI NESSE POEMA] Um monstro flui nesse poema feito de úmido sal-gema. A abóbada estreita mana a loucura cotidiana. Pra me salvar da loucura como sal-gema. Eis a cura. O ar imenso amadurece, a água nasce, a pedra cresce. Mas desde quando esse rio corre no leito vazio? Vede que arrasta cabeças, frontes sumidas, espessas. E são minhas as medusas, cabeças de estranhas musas. Mas nem tristeza e alegria cindem a noite, do dia. Se vós não tendes sal-gema, não entreis nesse poema.           Invenção de Orfeu, Canto Quarto, poema I

Amor Amor ou Vinícius de Moraes (Fabrício Carpinejar)


Há uma ideia do amor exclusivo. Como se houvesse uma única chance na vida de amar. Ou é o amor eterno, ou era mentiroso. Ou acontece pela vida inteira, ou não funcionou.
E, quando acertamos um casamento, as opções anteriores são consideradas falsas – necessitamos apagar o passado. E, quando erramos um casamento, as opções anteriores são vistas como legítimas – desperdiçamos romances melhores.
Trata-se de uma visão limitada, de contar apenas com um endereço para o nosso coração.
Mas amor é cigano, amor é mambembe, amor é viageiro.
Mas amor é tentativa, amor é insistência, amor é rascunho, amor é esboço, amor é esgotar as possibilidades e se recriar diante delas.
Só porque você amou antes, não significa que não pode amar de novo. Ou, só porque você amou antes, não significa que o próximo amor é falso e está fingindo.
Só porque você se declarou a alguém, isso não compromete as próximas declarações.
Só porque você disse que era para sempre e terminou, não quer dizer que é um fingido.
Todos os amores podem ser verdadeiros. Todos podem ser influentes.
Haverá um maior, sim, um amor decisivo, um amor transformador, um amor real, honesto e justo: o Amor Amor.
O Amor Amor não é egoísta, não vai isolá-lo da convivência. Você se duplicará para os próximos. Passará a amar os amigos como nunca. Passará a amar a família como nunca. É tanto amor, que sobrará para muitos.
O que deve prevalecer no temperamento é não desistir, não se entregar para o ressentimento, não defender os sentimentos parados condenando os outros que permanecem em movimento.
Eu acredito que quem casa ou namora várias vezes não é carente. Quem casa e namora várias vezes não é desesperado. Está se moldando à alegria, a superar as diferenças, a se separar, a recomeçar, a sangrar sozinho, a entender as dores e as imperfeições. Apresenta mais chance de ser feliz. Pois a felicidade é maleável, é macia, é elástica. A felicidade é feita para quem tem coragem de sofrer.
Desesperado e carente é aquele que não tenta e vive reclamando, praguejando, amaldiçoando os demais. Desesperado e carente é aquele que se esconde tão bem, que não se encontra e não se dá de verdade.
Desesperado e carente é aquele que não namora ou não casa para não ter que trabalhar emocionalmente e não se decepcionar. Alimenta-se de sombras, de sobras, de rancores.
Amor não é uma vez, são várias vezes até encontrar a pessoa predileta. A pessoa necessária. A pessoa fundamental. A pessoa que supera sua idealização, que lhe devolve a vontade de atravessar suas idades e tempos.
Daí, você descansa por estar andando, como diz minha mãe.
Amor é descansar em estar andando. E andar de mãos dadas jamais cansa.
Publicado no jornal Zero HoraColuna semanal, p. 2, 08/10/2013Porto Alegre (RS), Edição N° 17577



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